quarta-feira, 14 de maio de 2014

VERDADES ABSOLUTAS...
(Cristina Facco)



Sempre me “julguei” politicamente correta, mas fui surpreendida recentemente ao ouvir comentários sobre meus “pré conceitos”. Como assim? Reagi primeiro com indignação, afinal eu sempre defendo que as pessoas sejam mais abertas e imparciais em suas atitudes e opiniões, mas depois de refletir, com grande desapontamento percebi que sim, eu ainda me pego julgando e rotulando algumas pessoas.
Que fique claro, que aqui não estão sendo discutidas questões de fé, nem relacionadas à crimes ou infrações da lei, mas sim de direito, ou seja, o direito de um cidadão acaba quando começa o do outro.
É muito fácil julgarmos e rotularmos as pessoas por suas características físicas, étnicas e suas atitudes, seja pelo modo de se vestir, de se relacionar, suas preferências políticas, musicais, artísticas, religiosas, sexuais e até mesmo pelo seu time do coração ou tipo de alimentação!
Mas e quando nos percebemos do outro lado? Sendo julgados... Como nos sentimos? Creio que uma minoria consegue ignorar totalmente e conviver com essa realidade tão comum, mas não é o caso de muitos que sofrem consequências de diversos tipos, chegando por vezes à situações dramáticas, como  complexos, fobias, síndromes do pânico, baixa auto estima  e sentimento de rejeição. Isso quando não são verbal, moral, psicológica ou fisicamente agredidos, algo que hoje chamamos de bulling.
Resolvi então ler a respeito para entender o que nos leva à essa atitude equivocada e quase automática e foi no primeiro capítulo do livro “Renovando atitudes“, de Francisco do Espírito Santo Neto, que encontrei a resposta com a qual mais me identifiquei e sobre a qual comento a seguir.
Toda opinião ou juízo que temos sobre alguém ou alguma situação está ligada à situações que vivemos ou presenciamos ao longo de nossa existência. Censuras, comentários, crenças, superstições, preconceitos, opiniões e informações da sociedade e das instituições às quais pertencemos desde nosso nascimento geram dentro de nós uma espécie de coleção de regras e preceitos rigorosos a serem cumpridos, transmitidos e usados como referência para avaliar situações, instituições, indivíduos e atitudes como boas ou ruins, certas ou erradas, adequadas ou inadequadas. E na grande maioria dos casos nos baseamos neste “banco de dados” para emitir opiniões ou pontos de vista e construir nossas “verdades absolutas” e mecanismos de defesa diante do que nos é “estranho”, peculiar, inusitado, novo ou diferente.
Por essa razão, a forma como julgamos o outro muitas vezes reflete aspectos não apenas de nossa própria personalidade, mas de nossa história e cultura pessoal, a partir de um código construído ao longo de nossa vida como uma colcha de retalhos. Ao refletir a respeito surpreendentemente percebemos que esse “código” e essa forma de “sentenciar” os outros residem principalmente dentro de nós e não exclusivamente em códigos de conduta e preceitos externos, são resultado de crenças coletivas combinadas às diversas impressões pessoais registradas ao longo de nossa existência, mas raramente reavaliadas ,recicladas ou corrigidas.
Melhor do que julgar o outro seria observar a nós mesmos para reavaliarmos e refletirmos sobre nossas “verdades absolutas e códigos de conduta”. Qual sua origem? Quais seus fundamentos? Será que realmente fazem sentido? Podemos classificar e generalizar as pessoas de acordo com sua aparência ou preferências? De que modo isso nos afeta ou prejudica diretamente? De que forma nossas opções pessoais afetam o outro? O que não é bom para mim pode ser bom para o outro e vice-versa?
Se não enxergamos nossas próprias limitações, como podemos emitir julgamento sobre o outro? Se não respeitarmos as escolhas do outro, se não nos tornarmos mais abertos aos direitos e preferências do outro, também seremos limitados para sempre pelos nossos próprios critérios e padrões de julgamentos, podendo limitar nossa própria liberdade e felicidade ao longo do tempo.
Nunca sabemos o que nos reserva o futuro, seja para nós mesmos ou para aqueles a quem amamos. E se eles optarem por coisas que contrariam nossos códigos de conduta? Deixaremos de amá-los? Os excluiremos de nossas vidas? E se surgir um amor ou uma amizade em nossa vida fora de nossos padrões e critérios pré-definidos e imutáveis? Optaremos pela solidão e isolamento?

Segundo Paulo de Tarso, todo julgamento define não apenas uma sentença e um veredicto, mas um juízo, um valor, um peso e uma medida de como julgaremos a nós mesmos. Portanto só temos a ganhar respeitando cada vez mais as diferenças, a liberdade de escolhas e idéias de cada um e questionando e reformulando sempre nossas “verdades absolutas”. 

http://www.aconteceemalphaville.com.br/colunistas/398

Nenhum comentário:

Postar um comentário