VERDADES ABSOLUTAS...
(Cristina Facco)
Sempre me “julguei”
politicamente correta, mas fui surpreendida recentemente ao ouvir comentários
sobre meus “pré conceitos”. Como assim? Reagi primeiro com indignação, afinal
eu sempre defendo que as pessoas sejam mais abertas e imparciais em suas
atitudes e opiniões, mas depois de refletir, com grande desapontamento percebi
que sim, eu ainda me pego julgando e rotulando algumas pessoas.
Que fique claro, que aqui
não estão sendo discutidas questões de fé, nem relacionadas à crimes ou
infrações da lei, mas sim de direito, ou seja, o direito de um cidadão acaba
quando começa o do outro.
É muito fácil julgarmos e
rotularmos as pessoas por suas características físicas, étnicas e suas
atitudes, seja pelo modo de se vestir, de se relacionar, suas preferências
políticas, musicais, artísticas, religiosas, sexuais e até mesmo pelo seu time
do coração ou tipo de alimentação!
Mas e quando nos percebemos
do outro lado? Sendo julgados... Como nos sentimos? Creio que uma minoria
consegue ignorar totalmente e conviver com essa realidade tão comum, mas não é
o caso de muitos que sofrem consequências de diversos tipos, chegando por vezes
à situações dramáticas, como complexos,
fobias, síndromes do pânico, baixa auto estima
e sentimento de rejeição. Isso quando não são verbal, moral, psicológica
ou fisicamente agredidos, algo que hoje chamamos de bulling.
Resolvi então ler a respeito
para entender o que nos leva à essa atitude equivocada e quase automática e foi
no primeiro capítulo do livro “Renovando atitudes“, de Francisco do Espírito
Santo Neto, que encontrei a resposta com a qual mais me identifiquei e sobre a
qual comento a seguir.
Toda opinião ou juízo que
temos sobre alguém ou alguma situação está ligada à situações que vivemos ou
presenciamos ao longo de nossa existência. Censuras, comentários, crenças,
superstições, preconceitos, opiniões e informações da sociedade e das
instituições às quais pertencemos desde nosso nascimento geram dentro de nós
uma espécie de coleção de regras e preceitos rigorosos a serem cumpridos,
transmitidos e usados como referência para avaliar situações, instituições,
indivíduos e atitudes como boas ou ruins, certas ou erradas, adequadas ou
inadequadas. E na grande maioria dos casos nos baseamos neste “banco de dados”
para emitir opiniões ou pontos de vista e construir nossas “verdades absolutas”
e mecanismos de defesa diante do que nos é “estranho”, peculiar, inusitado,
novo ou diferente.
Por essa razão, a forma como
julgamos o outro muitas vezes reflete aspectos não apenas de nossa própria
personalidade, mas de nossa história e cultura pessoal, a partir de um código
construído ao longo de nossa vida como uma colcha de retalhos. Ao refletir a
respeito surpreendentemente percebemos que esse “código” e essa forma de
“sentenciar” os outros residem principalmente dentro de nós e não exclusivamente
em códigos de conduta e preceitos externos, são resultado de crenças coletivas
combinadas às diversas impressões pessoais registradas ao longo de nossa existência,
mas raramente reavaliadas ,recicladas ou corrigidas.
Melhor do que julgar o outro
seria observar a nós mesmos para reavaliarmos e refletirmos sobre nossas
“verdades absolutas e códigos de conduta”. Qual sua origem? Quais seus fundamentos?
Será que realmente fazem sentido? Podemos classificar e generalizar as pessoas
de acordo com sua aparência ou preferências? De que modo isso nos afeta ou
prejudica diretamente? De que forma nossas opções pessoais afetam o outro? O
que não é bom para mim pode ser bom para o outro e vice-versa?
Se não enxergamos nossas
próprias limitações, como podemos emitir julgamento sobre o outro? Se não
respeitarmos as escolhas do outro, se não nos tornarmos mais abertos aos
direitos e preferências do outro, também seremos limitados para sempre pelos nossos
próprios critérios e padrões de julgamentos, podendo limitar nossa própria
liberdade e felicidade ao longo do tempo.
Nunca sabemos o que nos
reserva o futuro, seja para nós mesmos ou para aqueles a quem amamos. E se eles
optarem por coisas que contrariam nossos códigos de conduta? Deixaremos de
amá-los? Os excluiremos de nossas vidas? E se surgir um amor ou uma amizade em
nossa vida fora de nossos padrões e critérios pré-definidos e imutáveis?
Optaremos pela solidão e isolamento?
Segundo Paulo de Tarso, todo
julgamento define não apenas uma sentença e um veredicto, mas um juízo, um
valor, um peso e uma medida de como julgaremos a nós mesmos. Portanto só temos
a ganhar respeitando cada vez mais as diferenças, a liberdade de escolhas e
idéias de cada um e questionando e reformulando sempre nossas “verdades
absolutas”.
http://www.aconteceemalphaville.com.br/colunistas/398